segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Outdoor da BOA (em textão)

Quando descobri a Corrida em trilhas, e posteriormente a Oficina Multisport, descobrir que o Mundo lá fora é muito maior, sem limites que não possam ser trabalhados, sensações que não possam ser experimentadas e que a palavra Outdoor teria um significado completamente novo em minha vida. Teria o Esporte sempre a sua frente!

BOA parte dessas descobertas aconteceram depois que conheci a Oficina Multisport, Guilherme e Camila, além do Diogo e Pedro, com suas "Aventuras", compartilhadas em treinos de 1h, 1h30. Lembro do Diogo se preparando para uma prova de 600 km!!!! Nossa!!! E eu acabando de chegar nesse mundo e sendo rebocada na Barragem do Paranoá!


Nesses três anos de corrida, e depois da crise de hérnia que me tirou do objetivo dos 42 kms, estava difícil achar uma prova que me tirasse o sono de véspera. Em 19 de setembro de 2015 a hérnia também entrou no meu dicionário. E no ano seguinte eu perdi o interesse pela corrida, ao mesmo tempo em que senti falta do esporte que mais amo! Fui, voltei, escalei, "pilatei" e não me comprometi com nenhuma inscrição nesses 12 meses (economizei dinheiro, kkk).

Até que... veio a BOA! Uma Corrida de Aventura feita aqui, do nosso ladinho, com nossos amigos de treino, nas nossas trilhas semanais (mesmo eu estando ausente).  E tem orientação (outra paixão que descobri com a Oficina). O mínimo que deveria fazer era desembolsar o dinheiro da inscrição! Mais que obrigação, valorizar o trabalho dos amigos.

A BOA foi tomando forma, a curiosidade foi sendo atendida com respostas sobre a prova e as distâncias definidas com seus 30 km e 150 km. Sim, eu pensei: não fosse a hérnia faria os 150km, ah como faria!!! Mas os 30 km, de orientação fácil, serão um passeio! Vou completar para ganhar!


Mas... e toda história sempre carrega seu mas... Eu que me achava desapegada ao desafio, desapegada a aventura, apenas comprometida em me divertir, me vi, nas ultimas semanas, diferente. Ansiosa, nervosa, pensativa e desastrosamente despreparada! Um pouco por estar ao lado de colegas que iriam se aventurar em 150 km, por nem sequer conseguir imaginar tudo o que eles estavam sentindo. Um pouco por mim, que ignorei a bike (pedal zero desde os 12 anos de idade), que fiz um único treino de caiaque e que estava tentando voltar a correr.

Agora já era tarde. Uma semana antes da prova... Corre e consegue uma bike! Leva pra revisão! Dá errado a revisão e a solução, com outra bike emprestada, só aconteceria aos famosos 45 minutos do 2º tempo... Ufa! E o planejamento, aquele que dizia: montar o kit primeiros socorros na terça, comprar a alimentação e o que mais precisar na quinta. Ah isso vai tudo por água abaixo e eu acabo passando a sexta na rua, até a hora do briefing!


Pernas exaustas, hérnia reclamando, pré-prova cansativo, mas vamos lá! Estamos todos ansiosos por um mapa na mão! Que delícia descobrir sobre a largada! Que trecho vamos pegar a bike que tanto me assustava... e o kit, será que estou levando tudo para a checagem? E as mil perguntas via uats para o parceiro de Oficina e organizador, que não aguentava mais tanta pergunta sem jeito!

Até que o momento mais esperado aconteceu! O mapa na mão e uma caneta vermelha para marcações. Todos espalhados pelo chão, escolhendo, duvidando, acreditando em suas próprias trilhas! Essa é a mágica da Orientação! Além da descoberta sobre o "ler a natureza", que me fez cada vez mais próxima dela; além da colaboração característica da Corrida de Orientação, quando ajudamos os colegas sobre um PC ou outro; além do "Eu vejo cristas e ravinas", depois que entendemos o que é topografia; fazer a sua trilha, o seu caminho, é tão simbólico quanto o significado da frase em si.


E subitamente aquela que achava que sabia navegar se desesperou com o mapa! Sim achei difícil!!! Depois me acalmei, ao ver que os colegas traçavam caminhos parecidos com o meu. Imaginando que na prática a leitura seria mais fácil. O trecho de bike diria que não...

Mas temos outros "mas". Um Racebook que tentei decorar na noite de sexta porque tinha comprado pouco papel contact (podem rir)! Um mapa completamente mal plastificado que acabou indo dentro de um saco zip! Uma adrenalina sem tamanho, que não imaginava ser capaz de sentir novamente!!! Ah, como é BOA essa sensação!

E então chega a grande hora. Ver os amigos largando para os 150km! Querer mostrar um sorriso de apoio e falar BOA prova por saber que só no dia seguinte eles chegarão! Pensar no mantra do "Completar é Ganhar!", porque você não sabe como usar as marchas da bike emprestada!



Ah mas tudo vai dar certo. São só 30 km de fácil navegação. Relaxa! Só que não (gíria do meu filho). A aventura começa no caiaque! A grande surpresa da prova. Como é difícil direcionar o caiaque! Ver a ilha, um dos PCs, tão distante e vários pontos coloridos e sincronizados na sua frente! Como funciona com eles e comigo parece o zig zag da máquina de costura da minha mãe? Olhava pra trás apenas para ter certeza de que o tempo e espaço estavam se relacionando. Sim, o caiaque andou, mas com muito custo. Aquele que foi pouco falado, pouco planejado, totalmente subestimado, foi o que mais me desafiou! Descobri o real estado de meditação. Minha mente estava controlada, vazia de pensamentos e com um único foco: força!



Depois veio a corrida, a orientação relativamente tranquila, o pensamento "mandaram bem nesse PC". Que prova bem planejada, que local bem escolhido. O que era pra ser manjado, foi surpresa! E o rasga mato ajudou a economizar algumas distâncias, pra então encontrar o medo maior, face a face. Aquela bike parada na quadra de esportes me esperando e dizendo que iria me usar! Estava muito grilada... completamente dominada pelo pensamento e fato de que não, você não sabe o que é isso.

Mas vamos lá! Sim, eu desci da bike para atravessar a pista! Dessa eu mesma dou risada! Mas o meio-fio é muito alto para encarar minha dignidade... E também carreguei a bike duas subidas depois. Descobri que colocar o bico da mochila de hidratação na boca sem parar a bicicleta seria meu aprendizado do dia! E consegui! Descobri que tinha força para subir, mesmo usando a marcha errada. Que tinha a sorte de evitar quedas que a minha mente desenhava de forma nítida! Descobri que sei usar o freio sem me estabacar no chão. E como eu usei! A velocidade das descidas me aterrorizava! E descobri que esse "trem" treme pra caramba!!! Que sacudidas foram aquelas? Uau! Me superando, calando a boca da minha hérnia naquele sacolejo fenomenal!


Que mais eu poderia esperar? Já pegamos o ponto 15, está quase tudo acabando e agora é só completar! Ah, mas a orientadora errou um ponto. E fez seguidores no seu erro... Até que outros, dignamente no espírito da Orientação, nos mostraram o caminho ao tão querido PC 16. Eita sensação gostosa, furar o cartão com o ultimo ponto!

Só que as surpresas não acabaram por aí. E o caminho ao local de chegada foi duro, justamente em um ponto em que não imaginei que passaria: o esgotamento mental e consequentemente físico. Sem aviso algum, meu corpo começa a querer parar. Fala que não aguenta mais a bike. Topa até ir correndo mas quer descer daquele "trem" estranho... Ah, mas a mente acalma! Os olhos veem o Lago Paranoá, reconhecem o Jerivá de outra prova de corrida, sabem que o asfalto está perto e mandam a mensagem direitinho pra cabeça. Eh, você está chegando! Você vai descer da bike novamente para enfrentar o meio-fio! Você vai saborear o açaí e o chopp que estão te esperando! Como nossos desejos parecem bobos em alguns momentos e grandiosos em outros!


Pra fechar a aventura, essas cinco horas de prova (nesse planejamento eu acertei), os amigos te esperando! Aquele "BORA" final no microfone, aquela energia BOA te recebendo! Os amigos que você sabia que já haviam terminado e sim terminaram bem! E um sentimento preenchedor... que parece percorrer todos os cantos do seu corpo! Que vai te fazer esquecer os braços e pernas queimados e ardendo, a bunda doendo, os calos nos dedos... Uma completude que te faz acelerar o tempo, valorizar o treino e virar páginas e páginas do calendário sonhando com a próxima chance de viver tudo novamente! 

Que venha a próxima BOA!!!

Pra sentir um pouco mais o gostinho dessa modalidade que está voltando pra Brasília, com esse esforço fantástico dos amantes do esporte no DF, segue um vídeo de uma das muitas provas que os professores da Oficina Multisport participaram, na China: Oficina Multisport e equipe The North Face Adventure.

Glossário do textão:

BOA - Brasília Outdoor Adventure. Prova de Aventura realizada no dia 10 de setembro de 2016, em Brasília.

Corrida de Orientação, ou Orientação é uma modalidade que tem por objetivo percorrer determinada distância em terreno variado e desconhecido, fazendo uso de mapas e bússolas, para localizar Pontos de Controle - PCs, seguindo uma ordem determinada. Segue link de matéria exemplificando o esporte.

Corrida de Aventura é uma competição que envolve várias modalidades, realizadas geralmente em ambiente natural. Um pouco mais sobre a modalidade pode ser conhecido no site Adventuremag ou Esporte na Rua.